Texto, Vídeos e Fotos: Ronian Carvalho
Cratera do vulcão Rano Kau |
Oficialmente a duas horas de caminhada a partir de Hanga Roa, o único vilarejo da Ilha de Páscoa, a cratera do inativo vulcão Rano Kau é uma das de mais fácil acesso no mundo. Além de propiciar belas vistas de toda a ilha, a cratera está localizada ao lado das ruínas da aldeia cerimonial de Orongo, um dos locais mais importantes para o povo Rapa Nui.
Rua Policarpo Toro |
Em Hanga Roa basta tomar a rua Policarpo Toro (que fica entre a costa oeste e o início da pista do aeroporto) até o ponto em que ela se dobra à esquerda se torna o camino a Rano Kau. A partir daí quem está motorizado segue a estrada sempre subindo a encosta do vulcão e chega à cratera em poucos minutos. Já quem está a fim de caminhar vai encontrar, nessa mesma dobra da estrada, uma placa à direita que indica o sendero a Rano Kau, um atalho à cratera em meio à vegetação.
Vista para o mar da caverna perto do sendero a Rano Kau |
Mas, antes de seguir vulcão acima, vale a pena caminhar um pouco à direita em direção ao mar para conhecer uma das cavernas da ilha. Uma escada razoavelmente escorregadia esculpida em meio às rochas leva a uma acolhedora abertura no penhasco costeiro. Ali é possível ver manchas na rocha interna que, combinadas com alguns entalhes, fazem os visitantes imaginar diversas formas. É um bom local para se refletir sobre a vida enquanto se observa o infinito do Oceano Pacífico e se sente o abraço rochoso da ilha. Mas é preciso tomar cuidado, porque aparentemente parte da caverna fica debaixo d'água na maré alta.
Sendero a Rano Kau, com cara de savana africana |
De volta à subida à cratera do Rano Kau, quem vai caminhando pelo sendero passa em meio a diferentes trechos de vegetação. O primeiro deles é uma floresta não muito densa onde há árvores de diversos tipos e tamanhos que dão um ar semitropical a essa parte da ilha. Como é uma área com algumas chácaras, é preciso passar em meio a algumas cercas. Mas o caminho é oficializado pelos órgãos de turismo e está bem demarcado, sendo difícil se perder por ali.
Vista a partir do final do Sendero a Rano Kau |
Após a floresta há um longo trecho de gramíneas com algumas poucas árvores retorcidas, que dão um aspecto de savana africana ao local. Ao longo do caminho há dois pontos de descanso com bancos sob as ralas sombras dessas árvores. Depois de caminhar por alguns minutos dá para olhar para trás e já ver todo o vilarejo de Hanga Roa e praticamente a extensão total da costa oeste da ilha.
A ventosa cratera do vulcão Rano Kau
A trilha termina ao chegar à estrada do camino a Rano Kau. Basta atravessá-la e já se está no mirador da cratera. Mesmo quem já conhece o vulcão por foto se impressiona com a grandiosidade do lugar. Com cerca de 1,5 km de diâmetro, esse enorme buraco parece estar a beira de cair no azul infinito do mar ao seu lado. Um lago coberto por camadas de gramíneas verde-amarelas ocupa a cratera e lhe dá um aspecto que algumas pessoas, forçando a imaginação, chamam de "mapa-múndi". As encostas íngremes que descem ao lago são bastante escarpadas e também estão cobertas de verde e amarelo, além de por um agrupamento de flores cor-de-rosa em determinado ponto. Uma trilha circunda toda a borda da cratera que está sobre terra e de alguns de seus pontos é possível ter vistas incríveis de toda a ilha. O vento é muito forte no local, então tem que tomar cuidado para que ele não leve câmeras, celulares e objetos pessoais para a cratera ou para o mar.
Costas oeste, leste e sul da Ilha de Páscoa vistas a partir da borda da cratera do vulcão Rano Kau
Quando o queixo já estiver doendo de tanto ficar caído com a grandiosidade do Rano Kau, é hora de conhecer a aldeia cerimonial de Orongo, que fica na borda sudoeste da cratera, a cerca de 300 metros sobre o nível do mar. A aldeia foi construída pelos Rapa Nui para a realização do ritual tangata manu, no qual eram coroados os seus líderes. Desafiadora para qualquer atleta moderno, o ritual do homem-pássaro consistia em descer as encostas rochosas da ilha para se jogar no mar, nadar cerca de 3 km até a ilha Motu Nui, pegar um ovo do pássaro manutara (semelhante a uma gaivota), que faz ninho no local, e voltar a Orongo com ele intacto. O primeiro a fazer tudo isso era coroado governante dos Rapa Nui. Aparentemente de origem religiosa, muitos aspectos do ritual ainda permanecem desconhecidos.
Ilha do homem-pássaro (Motu Nui) |
Atualmente há apenas cavernas e ruínas em Orongo, algumas com petróglifos que dão um ar ainda maior de mistério ao lugar. Porém, no passado havia várias construções com paredes de pedra e telhado de palha onde os sacerdotes Rapa Nui aguardavam a volta dos aspirantes a governantes. Além da cratera do Rano Kau ao lado, também impressiona a vista que se tem de Motu Nui. Quem ouve a história do ritual tangata manu e vê aquele pequeno pedaço de terra na imensidão do Pacífico se põe logo a pensar em quanta bravura era necessária para escalar as duas ilhas duas vezes, nadar no mar revolto e ainda procurar um ovo de pássaro.
Petróglifos de Orongo |
Aos visitantes é permitido entrar em Orongo apenas uma vez. O controle é feito por meio da apresentação do boleto de entrada no Parque Nacional Rapa Nui, comprado ao se desembarcar no Aeropuerto Mataveri (em julho de 2017 ele custava US$80 para estrangeiros). Logo após tê-lo carimbado no centro de recepção de Orongo, o visitante pode ler os paineis e mapas informativos no pequeno museu do local e, em seguida, conhecer as ruínas da aldeia cerimonial por meio do sendero auto-guiado de Orongo. Guarda-parques, muitos deles nativos, estão sempre vigilantes para que nenhum visitante espertinho tente danificar o lugar, levar algum vestígio histórico ou fazer algo perigoso. Na saída é possível comprar souvenirs que remetem a Orongo diretamente das mãos de algum dos artesões Rapa Nui que ficam ao lado do estacionamento. Enfim, um passeio para todos os gostos, do mochileiro em busca de histórias e aventuras, ao turista de excursão com camiseta floral e máquina fotográfica a tiracolo.
Orongo: trilhas, gramíneas e ruínas |
0 comentários:
Postar um comentário